Simone Klober
Membro Didata em Formação nas áreas Organizacional e Educacional
Há cerca de 3 anos, ministrando um Curso Introdutório de Análise Transacional, o AT101, me deparei com uma turma particularmente heterogênea. Uma maravilhosa mescla de seres humanos de diferentes áreas de atuação, com formação, faixa etária e crenças distintas, mas com um foco em comum: aprender e conhecer mais as pessoas e conhecer mais a si mesmos.
Inicialmente, a expectativa de compreender mais sobre os outros e como lidar com eles em diferentes situações foi quase unanimidade. Queriam olhar para fora, para o outro e mudar as coisas. No entanto, à medida que os temas foram sendo trabalhados, essa expectativa foi se colocando em segundo plano. Evidenciada a importância do “conhece-te a ti mesmo”, perceberam que ao se conhecerem melhor, terão mais condições de também conhecer o outro e que para mobilizarmos mudanças no meio em que vivemos, é necessário permitir mudanças internas primeiro. O ser humano transborda o que ocorre internamente: críticas quando a autocrítica é intensa; paz quando nosso coração está tranquilo; compreensão quando nos aceitamos em nossas limitações; amor aos outros quando nossa cota de amor próprio está suprida. Olhar para dentro é mudar.
Uma das preocupações na maioria dos grupos que coordeno e não foi diferente nessa turma, é como conseguir colocar em prática o que aprenderam. Como ser assertivo quanto ao uso das ferramentas aprendidas. Como manter-se equilibrados mediante pressão. Como escolher as palavras certas e não entrar em jogos. Enfim, como de fato conseguir fazer diferente quando “mudar é difícil” uma vez que tanto nós quanto as pessoas ao nosso redor estão acostumados a agir sempre da mesma forma.
Muitos treinandos expressam o receito de que as pessoas à sua volta possam estranhar sua forma diferente de agir ou de parecerem meio mecânicos e artificiais para as pessoas uma vez que não se tem por hábito agir assim. Minha resposta a essa inquietação é o lema do escotismo: “Sempre Alerta” e “Melhor Possível”! Estar alerta e conectado no aqui e agora para praticar e fazer o melhor possível.
E também aceitar com naturalidade que vamos falhar, que vai dar branco em alguns momentos, que vamos nos perceber e não saber como agir tudo bem! Tudo bem em não ser perfeito, faz parte, é assim que se aprende. Tenho percebido que quando se trata de novos comportamentos, as pessoas, muitas vezes, alimentam a expectativa de que já irão sair fazendo tudo de forma diferente e correta. Queremos incorporar a nova forma de agir de maneira natural e fluída como se fizéssemos assim há anos. Isso é impossível. É como fazer uma única aula de inglês e sair bilíngue. O risco de alimentar esse desejo impossível e irreal é que qualquer tentativa sem êxito pode ser a justificativa para não mudar, confirmando crenças de que “não tem jeito”, “não consigo”, “é difícil” e tantas outras afirmações que nos convencem a fazer sempre da mesma forma.
Aprendizado é passo a passo, dia após dia. É enxergar diferente, ver por outro ângulo e buscar novas possibilidades de ação. É se permitir experimentar e ver no que dá, como uma criança esperta e curiosa que fica instigada por conhecer e descobrir. Que fica atenta, de olho em tudo, para descortinar o desconhecido, para se surpreender com as descobertas e, sobretudo, para se deliciar com as surpresas desse novo olhar!
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